Janaína é uma amiga virtual que tem um gato lindo. Mas isso não é novidade, tenho várias amigas com gatos lindos, fofos, queridos, carinhos e especiais.
Resolvi mostrar a história de Janaína, dando sequência a postagem da gata Olívia, que veio da Romênia e frizar: jamais deixe seu pet para trás - mesmo que você precise mudar para o outro lado do mundo. Ele precisa muito de você!
Essa reportagem abaixo saiu no 'Jornal da Tarde' (SP), em 19 de agosto de 2006, muito bem escrita pela jornalista Marici Capitelli. Então agora chega de conversa e boa leitura! É impossível não emocionar-se.
Nemo, o gato refugiado
19/08/06 - Jornal da Tarde, SP
Nemo, um simpático gato vira-lata libanês, é um sobrevivente de guerra. Conseguiu escapar das tragédias da guerra entre Israel e o grupo xiita Hezbollah. Está a salvo em São Paulo, reconstruindo a sua vidinha em uma casa emprestada.
Chegou à Capital depois de 37 horas de viagem em uma apertada caixinha passando em estradas bombardeadas por mísseis e dormindo em aeroportos. Estava disfarçado debaixo de um casaco quando atravessou a polícia da fronteira com a Síria.
A aterrissagem de Nemo no Aeroporto Internacional de Guarulhos, no domingo passado, só foi possível graças ao amor de seus donos: uma brasileira e um libanês. O casal teve ainda o apoio de brasileiros de todos os cantos do País que se sensibilizaram com a história do gato que precisava fugir da guerra no Líbano.
"Para mim era muito claro. Se o Nemo não viesse morreríamos os três no Líbano. Mas ficaríamos juntos", conta a arquiteta paulistana Janaína Alves, 27 anos.
Em um País dilacerado pelos conflitos e mortes, faltando comida e combustível, as pessoas - que só pensavam em fugir - não entendiam a preocupação da dona em salvar a vida do seu gato.
O que ela mais ouviu foram críticas. "As pessoas me diziam que não deveria ter tanto trabalho. Era para deixá-lo na rua e arrumar outro gato no Brasil. Ficava horrorizada porque ele não é um brinquedo de pelúcia. Amor não se deleta do coração", conta emocionada a jovem que morou e trabalhou no Líbano durante oito meses.
Nemo, de 9 meses e cinco quilos, meigo e brincalhão, entrou em sua vida em março, adotado através de uma ONG libanesa de proteção a animais abandonados.
Assim que teve início a guerra em 12 de julho, Janaína ficou desesperada. O noivo, cientista da computação, acostumado aos conflitos da região, acreditava que tudo acabaria em poucos dias. Mas a situação só piorou. O escritório em que Janaína trabalhava foi destruído por bombardeios. "Os mísseis caíam o dia todo. Era um barulho infernal. Uma sensação indescritível." Como tantos libaneses, o casal começou a organizar a fuga.
No avião de resgate da FAB, só poderia embarcar a arquiteta. Nem o gato. Nem o marido. "Não quis. Não deixaria meus dois amores libaneses para trás." O jeito foi comprar passagens, artigos raros. Com a economia arrasada, o casal não tinha dinheiro, já que não podia trabalhar.
Com muita dificuldade, eles conseguiram juntar o necessário para as passagens com um parente. Só o bilhete de Nemo custou US$ 210. Esperaram dias para conseguir embarcar. "Não tinha vaga. Todo mundo estava fugindo."
Até que um dia conseguiram os sonhados lugares. Deixaram para trás a casa, móveis, objetos de decoração, quase todas as roupas e os projetos de vida. Trouxeram o mínimo e Nemo.
A pior parte da viagem foram as duas horas da cidade onde viviam, Awkar, até a fronteira com a Síria.
O trajeto foi feito de táxi a US$ 250, também conseguidos por empréstimo. "Podia cair um míssil em cima de nós a qualquer momento."
Quando entraram na única estrada disponível, um míssil havia acabado de cair. Tinham dado muita sorte.
A fronteira com a Síria era outro temor. Era muito provável que os sírios cobrassem taxas elevadas pelo animal, isso se o deixassem entrar. Janaína colocou o casaco em cima da caixa de transporte de Nemo, respirou fundo e mais uma vez contou com a sorte. Os policiais sírios conversaram entre si, interrogaram o taxista, olharam documentos e nem notaram a presença do gato.
Muita espera
Os três tinham vencido a morte na estrada e a fronteira síria. Foram mais seis horas de viagem até o Aeroporto de Damasco. Oito horas de espera com Neno apertado na caixa. No vôo, passageiros se encantaram com o gato. Janaína pode até tirá-lo da caixa por algum tempo. "Ele estava muito mais carinhoso que o normal. Parecia agradecido por estar conosco."
No Aeroporto de Paris, mais quatro horas e meia de espera e a cobrança de 400 euros para que Nemo tivesse uma caixa de transporte até São Paulo. Janaína caiu no choro. Achou que, na última etapa da viagem, não conseguiria embarcá-lo. Até que conseguiram que o animal ficasse na mesma caixa.
Mais 12 horas. Nemo precisou ir ao toalete. Foi limpo com lenços umedecidos. Comeu arroz e frango com a sua dona e, exausto, passou parte do vôo no colo. Passageiros e comissários fizeram o possível para que o bichano ficasse confortável. "Ele virou a estrela do vôo. Foi muito bonito", contou a arquiteta.
Com mais de uma hora de atraso, o avião chegou a São Paulo. Janaína, o marido e Nemo, finalmente, encontraram um pouco de paz.
Nossa, quanto amor ao gatinho... Nossos bichinhos merecem tudo isso mesmo! Parabéns aos donos pela dedicação!
ResponderExcluirLindíssima história, de amor verdadeiro, incondicional. Por isso, simplesmente não admito que alguém possa sequer pensar em se mudar e deixar seus bichos para trás. Isso é crueldade no seu estado mais puro.
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